Corinthians tem prejuízo milionário com o clube social.

Fachada do clube social do Corinthians, localizado na Zona Leste — Foto: Reprodução Redes Sociais

Timão conta com 16 mil sócios, mas só 3,7 mil pagaram no último mês; entenda por que praticamente metade dos associados pode frequentar o clube sem precisar pagar

FONTE: Globoesportes Por Bruno Cassucci — São Paulo.

O Corinthians não é apenas um time com milhões de torcedores espalhados pelo Brasil e pelo mundo. É também um clube social localizado no bairro do Tatuapé, Zona Leste de São Paulo, que oferece estrutura para lazer e esportes a seus associados, em grande parte moradores da região.

Embora o Timão não faça mais jogos ou treinos no Parque São Jorge, o clube exerce influência direta e indireta na equipe de futebol. Um exemplo disso está nas finanças. Desde 2011, o Corinthians teve prejuízo na área social e de esporte amadores em todos os anos.Déficit do Corinthians com esportes amadores e clube socialValores em milhões de reaisAnosR$2011201220132014201520162017201820190102030405060702013
● R$: 9,6
Fonte: Balanços financeiros do Corinthians

Como mostra o gráfico acima, desde 2016 o prejuízo com departamento social e esportes amadores tem sido cada vez maior. No último ano, o déficit foi de R$ 61,4 milhões. Já no futebol, o Timão ficou no vermelho em R$ 115,5 milhões, totalizando um resultado negativo de R$ 177 milhões na temporada.

As contas são apresentadas de forma separada. Na prática, porém, o caixa de onde sai o salário de Cássio é o mesmo utilizado para pagar o cloro da piscina. Dinheiro que poderia ser investido em reforços para o elenco de Tiago Nunes acaba tendo outras finalidades no Parque São Jorge.

Em entrevista ao podcast GE Corinthians no mês de março, o diretor financeiro do Timão, Matias Romano Ávila, minimizou o tamanho do problema, mas deixou claro que ele também tem caráter político.

– É muito pouco para o tamanho do orçamento do Corinthians. Se você for fazer isso (reduzir custos do clube social), eu vou chegar lá e falar assim: corta a folha aqui. Eu vou deixar de ter academia e uma série de serviços, restaurantes, bares e tudo que a gente consegue fazer lá dentro, vou reduzir limpeza, segurança e tal. Vou deixar o associado descontente – disse o diretor, que ainda completou:

– Vale a pena? Quem elege o presidente, os vices e os conselheiros? É o associado. O clube é feito para 8 mil sócios que votam e 40 milhões de torcedores, infelizmente é assim. Temos que cuidar do patrimônio do clube.

Fachada do clube social do Corinthians, localizado na Zona Leste — Foto: Reprodução Redes Sociais

Fachada do clube social do Corinthians, localizado na Zona Leste — Foto: Reprodução Redes Sociais

Atualmente, o Corinthians conta com aproximadamente 16 mil sócios. Porém, apenas 3,7 mil pagaram mensalidade em maio. Ou seja, para cada associado pagante houve outros três que puderam frequentar o clube sem gastar nenhum centavo.

+ Rodrigo Capelo: veja análise das finanças do Corinthians

Isso se explica não só pela inadimplência como também pela grande quantidade de sócios remidos. Eles possuem títulos que lhes garantem livre acesso ao Parque São Jorge sem nenhum custo.

Atualmente, o quadro associativo do Corinthians é composto da seguinte forma:

  • 8.308 sócios remidos, que não pagam mensalidade. Os dependentes deles não são isentos. Há suspeitas de que o número esteja desatualizado por mortes não contabilizadas.
  • 112 sócios conselheiros vitalícios. Além de não precisarem pagar para frequentar o clube, eles têm poder de votar contas, orçamentos, processos de impeachment e possuem alguns benefícios.
  • 2.228 sócios pagantes familiares. Donos desses títulos pagam R$ 200 por mês e podem levar parentes diretos, como cônjuges e filhos.
  • 447 sócios pagantes individuais, que arcam com R$ 180 por mês.
  • 5.115 dependentes. Este número engloba os associados vinculados aos títulos remidos (que precisam pagar mensalidade), mas também os dependentes familiares, que são isentos.

Todos os frequentadores do Parque São Jorge, independentemente do título que possuam, têm custos para realizar atividades internas, como uso de academia, das piscinas e outros aparelhos esportivos. Mesmo assim, as despesas do clube são maiores do que as receitas.

– A conta do social não fecha e não vai fechar – afirmou Jorge Kalil, atual diretor-adjunto de futebol e vice-presidente do Corinthians entre 2015 e 2018, em entrevista ao jornalista Alexandre Praetzel, na semana passada.

Piscinas na sede social do Corinthians — Foto: Divulgação / Corinthians

Piscinas na sede social do Corinthians — Foto: Divulgação / Corinthians

Garrincha e o timão de Wadih Helu

Kalil também explicou o porquê de o Timão ter tantos associados isentos de pagamento:

– Na década de 1960, o Wadih Helu, presidente da época, resolveu montar um timaço e precisava de dinheiro. Para isso, ele vendeu os chamados títulos de sócios remidos a um valor muito acima do título patrimonial. Esses sócios tiveram direito a nunca mais pagar mensalidade no Corinthians.

Estádio Alfredo Schürig, ou Fazendinha, faz parte da estrutura da sede social do Corinthians — Foto: Ana Canhedo

Estádio Alfredo Schürig, ou Fazendinha, faz parte da estrutura da sede social do Corinthians — Foto: Ana Canhedo

Apesar de não ter conquistado o sonhado título paulista, essa equipe entrou para a história, como conta Celso Unzelte, jornalista e historiador responsável pelo Almanaque do Timão:

– No início de 1966, o Wadih Helu teria destinado, segundo jornais da época, uma verba recorde para o departamento de futebol e contratou Garrincha. Também trouxe da Portuguesa, de uma vez só, os zagueiro Ditão e o volante Nair. Criou-se muita expectativa em cima daquele time. Inclusive, é o time que dá origem ao apelido Timão, pois o Corinthians montou naquele ano um timão – afirmou Unzelte.

– O Wadih sempre foi acusado de ser um cara do social, com ele o clube cresceu muito, mas ele nunca conquistou o campeonato, apesar de gastar muito dinheiro. Em 68 ele ainda trouxe o Paulo Borges, o jogador mais caro do Brasil – completou o historiador.

Fundado em 1910, o Corinthians comprou o terreno no qual foi erguido o Parque São Jorge em 18 de agosto de 1926. Hoje, o local tem 158 mil m² no total, com 44 mil m² de área construída. O clube conta com praças, quadras poliesportivas, complexo aquático, o estádio Alfredo Schürig (Fazendinha) e também abriga um teatro, um memorial e a sede administrativa do Timão.

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